sábado, 27 de novembro de 2010

Rivotrizando


Ilustração: Ruy Barros


Aproveito sua ausência pra matar as saudades de mim. Nem me lembrava do quanto posso ser doce, de como é gostoso acarinhar minhas carências e fazer minhas vontades.

Acho até que o destino cansou de me contrariar.

Ok, você sabe que não acredito em destino... Mas se acreditasse, escreveria um bilhetinho agradecendo a trégua dos últimos dias.

‘Senhor Destino, valeu o cessar fogo. Vamos poupar artilharia e promover a paz.’

Não que as coisas estejam em ritmo de final de novela. Ainda tem meia dúzia de personagens me incomodando e alguns arremates que preciso ajustar pra ficar satisfeita com o enredo.

Meu cabelo podia ser mais liso, meus textos mais engajados e você mais receptivo. Mas não tô reclamando, não. Ao contrário, ando flertando com as minhas qualidades e gostando mais de mim.

A ansiedade continua aqui, só que mais comportada. Vira e mexe me cutuca e ameaça birra. Aí dou bronca e ela senta cabisbaixa, com as perninhas balançando no ar.

Hoje de manhã acordei com o passado chutando a porta. Ameacei chorar. Pensei em voltar atrás, jogar pro alto a evolução e a placidez dos últimos dias. Corri pro espelho e ele me confidenciou que sou mais bonita sorrindo. Resolvido: sorri ao invés de berrar e escapei de ouvir ecos dos meus gritos.

Viu? Ainda sei me virar sozinha, embora você me vire do avesso como ninguém. Vai ver é esse o problema: não quero viver do avesso.

Dei carinho, apoio e espaço. Mas você é exageradamente adepto da calma. Corro o risco de receber sementes ao invés de flores.

Quer saber? Me importo, mas não me inflamo. Toma, um sorriso pra você também. Tô muito mais preocupada comigo, em manter os bons ventos que a vida anda soprando.

O que uns chamam de egoísmo, eu chamo de paz.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sobre anjos e chocolates

'Ela? Suave como a pata de um elefante.
Bem, boeings não são leves, mas voam.'


De vez em quando me pergunto que porra de época é essa, que não me faz feliz nem dá saudade do que já passou.

Quero acordar cedo e degustar o dia, ou ficar na cama e esquecer que é segunda-feira. Só não vale levantar sem vontade, mecanizar a rotina e estocar insatisfação.

Vou quebrar os relógios, fazer uma fogueira com os calendários. Açoitar agendas, mandar prender despertadores.

Redações e relatórios, só a lápis. Por favor, assine as duas vias.

Lembranças são arquivos e tenho descoberto nos meus um amontoado de material dispensável.

O que você quer ser quando crescer? O que você vai ser quando sua vontade crescer e te engolir?

Dei pra rabiscar coisas desconexas. Sintetizar frases, desenhar o indizível.

Sou tanto que não sei descrever e escrevo pouco. Sou pouco e pra descrever, digo tanto.

Romanceio até a lista da feira e do supermercado: arroz e feijão, café com pão, nós e noz.

Simulo paixões, faço de conta, passo da conta.

Passei da fase do ‘uni-duni-tê’, agora tiro par ou ímpar para escolher.

Meu bem, vem ouvir minhas velhas novidades. Afaga meu cabelo, me olha nos olhos e me faz sentir aquele frio na barriga. Isso é possível até em noites de calor.

Sonho com colo enquanto coleciono calos.

Durmo de lado e no meio da noite fico em dúvida: pra que lado é o céu?

Meu anjo da guarda abandonou o posto. Assumiu um estagiário que sonha ser Cupido. Caiu de gaiato na minha história, ficou zonzo com o enredo.

'Arreda daqui, anjinho torto.'

Vou brincar com a sorte, me colocar num pêndulo entre ela e o azar.

Avisem meu signo que acabo de anunciá-lo num leilão, site de vendas, americanas.com.

Enquanto escrevo, nossa música começa a tocar. Nossa? Não, da menininha boba que deletei ontem a noite.

Ei, produção, vamos pensar numa trilha sonora? Essa aí não dá, não!

Quebrei seus óculos para que você não visse meus erros. Tentei apagá-los antes que te saltassem aos olhos. Mas eles foram rabiscados com caneta, grifados, sublinhados e destacados.

Tudo bem, meu bem. Hoje acordei com tanta fé em mim que não preciso dos santos do seu altar.

A rotina não está doce, mas chocolate amargo sempre foi meu favorito. Devorá-la sozinha me parece interessante, agora que fiquei de bem comigo.

O que você quer ser quando você crescer? - Completa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sublimando

Estou anistiando meus sentimentos tortos. Aproveitem, usem e abusem.


Não sei jogar xadrez, tampouco conheço as regras do seu jogo.

Troco toda a erudição e frases feitas por diálogos despretensiosos, que não exijam disposição para decifrar incógnitas.

Rabisco frases sem sentido, me pego rimando e desenhando versos bobos.

Se a neblina atrai, vamos tirar a prova, dissipá-la buscando raios de sol.

Vou gastar meus clichês, esgotar rompantes emocionais, desperdiçar ironia e matar as incertezas. Se não dá pra converter em exclamação, dispenso.

Digladio com a ansiedade mas não sei viver sem ela. Seria uma vitória vã... ‘Acabou a guerra. E agora?’

Detesto a contradição, mas ela me adora. É um caso de amor e ódio onde invariavelmente saio rendida.

Meus textos não tem sentido porque os desejos rumam em sentidos opostos.

Tem um elefante branco, uma caixa de lápis de cor e milhares de objetos inúteis aqui dentro. Fico criando associações, buscando coerência e domínio... Não alcanço nada disso e me frustro. Quebro as pontas de todos os lápis.
Vai render meia página. E eu queria um livro inteiro, dez ou doze capítulos de você.